quinta-feira, 23 de maio de 2013

Os Meus Bens Tremendos


Os filmes da Sessão da Tarde me deixavam fissurada quando eu era pequena, principalmente aqueles que contavam a história de um grupo de amigos que saía em busca de aventuras em bosques, florestas, praias ou casas abandonadas. Sempre quis fazer isso um dia, contanto que fosse acompanhada de amigos companheiros, iguais aos dos filmes. Esses filmes me faziam um bem tremendo.

Atualmente estamos no outono e, mesmo não sendo inverno, está bem frio! Eu sofro no frio, meus ossos doem. Mas o frio tem significado ambivalente pra mim. Às vezes eu gosto do frio. Às vezes eu gosto da melancolia que ele traz. Gosto de ouvir uma música antiga, de espirrar, de me aconchegar dentro dos meus casacos e tomar alguma coisa quente. Gosto de ler no frio. Gosto de pensar na vida – vai ver que é por isso que escrevo agora -, como quando a gente pensa antes de dormir ou debaixo do chuveiro.

O frio, algumas vezes, vem acompanhado de chuva. Tomar chuva me irrita, odeio ficar molhada e gelada. Só gosto quando eu estou na dentro da minha casa, sabendo que não vou precisar sair depois. Assim como no frio, eu gosto de pensar olhando a chuva cair. Olhando a maneira que as poças ficam quando os pingos caem dentro delas. Olhando como as gotas deslizam pelo vidro, apostando corrida.

Pra me defender do frio, o sol consegue me aquecer por dentro e por fora. Quando as coisas na minha cabeça estão movimentadas demais, inquietas e perturbadas, pra me sentir bem mesmo, me imagino viajando pro interior, na rodovia Castelo Branco, com todos os vidros abertos numa tarde quente, com o vento bagunçando todo meu cabelo e com o sol forte invadindo o carro e encostando no meu rosto. Vendo meus pelos loiros do braço ficarem cada vez mais dourados. Imaginar isso também me faz um bem tremendo.

Os meus amigos me fazem bem, assim como o sol e, por hora, a chuva e o frio também me fazem. Cada amigo faz de um jeito: minha amiga espera em silêncio a minha dor de bater o cotovelo bem forte – daquelas que a gente perde o ar - passar, pra daí perguntar se está tudo bem. Minha outra amiga tem o dom de me abraçar com palavras, de saber me ouvir. Essa mesma amiga tem um carinho igual de mãe, de mimo mesmo. Outras duas amigas – que nem ao menos se conhecem, mas que são tão parecidas – conseguem me arrancar as mais longas risadas com tão pouco. A identificação que eu tenho com elas, não tenho com mais nenhuma outra amiga. A outra amiga é como se fosse irmã, não pela ligação que temos, mas pelo tempo que nos conhecemos: a vida toda. Essa amiga é diferente das outras: ela é tímida e reservada. Se ela ler isso e descobrir que é dela que estou falando, vai ficar brava; mas arrisco dizer mesmo assim, que ela também é insegura. Mas não importa, porque quando ela deixa as barreiras no chão, tem um carinho tão gostoso de receber. E acho que ela sabe disso. Meu amigo é bravo, às vezes grosseiro. Ele tem carinho de mãe, também, assim como a segunda amiga. Mas o dele é o carinho severo, daqueles que a gente sabe que vai levar bronca quando faz alguma coisa errada. E daquelas que a gente sabe que é tudo por amor.Eu admiro muito esse meu amigo, esse meu amor.

Esses são os amigos companheiros que eu via na Sessão da Tarde e que eu tanto queria conhecer.

Esses detalhes me dão carinho, me deixam satisfeita e feliz. Me fazem um bem tremendo...