Posso me teletransportar pelo cheiro, sabia? Posso mesmo.
Sentindo o cheiro de “guardado” na toalha toda trabalhada
que costumávamos colocar na mesa de Natal.
Sentindo o cheiro de couro do banco do carro, misturado com
cheiro de mato da rodoviária, sentido interior.
Sentindo o cheiro de grafite, de lápis, cheiro de folha
impressa. Já posso senti-la quente em época de prova.
Sentindo o cheiro amadeirado de tabaco numa recepção do
hotel que ficamos em Stuttgart, na Alemanha. É como se conseguisse ver o senhorzinho
gordinho da recepção na minha frente.
Sentindo o cheiro de banho que sua pele fica, e como ela fica ressecada pela sua teimosia em não
querer passar um creme. Ah, como eu gosto da sua pele...
E falando em creme, posso me teletransportar pro lado da
minha mãe sentindo o cheiro de um determinado Victória's Secret .
Cheiro de shampoo masculino é, sem dúvidas, sinal da
presença do meu pai. Ainda mais se estiver “úmido”.
Cheiro algodão molhado. Extremo demais? Me faz lembrar de
uma caneca do Pikachu. Eu bebia água nela.
E cheiro de plástico. De bonecos de plástico me lembram a
fase molecagem. Me lembram meu príncipe de 16 anos.
Sentindo cheiro de pêssego e de madeira - madeira, mesmo! Tipo móvel. Só esperando ouvir
a voz feminina chamando os primos para almoçar.
Sentindo cheiro de coisa antiga nas páginas de livros, é
como se já pudesse imaginar a história que eu estava lendo.
Cheiro de cloro! Esse, sim, é gostoso de lembrar. Cheiro de
verão, de sol, de risada, de bochecha queimada, de pele descascando. Me faz
lembrar que eu queria viver de fotossíntese!
Enfim, como eu disse, é como se, por mágica, eu conseguisse
reviver todo o momento. Basta fechar os olhos e olhar pra dentro. É realmente
uma sensação inexplicavelmente gostosa.