Era uma vez, uma menina, que se chamava (minha mãe costumava
a começar uma história assim, desse jeito, pausadamente)... Bem, não vem ao caso
o nome dela.
Ela tinha saúde e bons amigos. Passou muito tempo da sua
infância como um molequinho: brincando de luta, de correr, de arriscar. Claro,
também tinha suas barbies e bonecas parecidas com bebês – que ela dava banho,
trocava de roupa e dava mamadeira.
Não ligava muito pra maquiagem e usava qualquer coisa que
estivesse mais fácil de pegar no guarda-roupa. Era diferente sim, e, o mais
legal, é que ela não se ligava disso – ou se ligava, se não importava, não que
eu me lembre.
Foi depois de encontros em meio à puberdade que a menina passou
a perceber como a vaidade era essencial, como as roupas faziam diferença e a como
a singularidade (utópica) era importante e como era “out” não ter opinião
própria (apesar de a alienação vigorar).
Isso pode ter feito a
menina perder sua naturalidade. Se perder.
E mesmo perdendo sua naturalidade, isso caminhou com ela desde então, como algo de sua natureza. E
infelizmente, isso acompanha a
maioria das pessoas. Só é com pesar que ressalto isso, pois conheci a menina
antes da mudança.
Existe um equilíbrio enorme na vida dela. Um que explode e
outro que agüenta. Eles vivem brigando e deixando a menina confusa, cega e com
dúvidas. Esse equilíbrio nada mais é do que as pessoas que ao redor dela.
Hoje, receosamente, arrisco afirmar que a menina é medíocre.
Que os picos de felicidade e tristeza brincam de montanha russa dentro dela, e
que é alto o valor material das coisas. Que ela busca ser uma pessoa melhor, mas
o pote de moedas de ouro está longe demais.
A menina sente falta. A menina sente carência. A menina se
sente vazia. A menina não se sente... Mas a menina sabe que não está na pior
(ou pelo menos deixa que as outras
pessoas a convençam disso).
A menina tem uma boa visão do futuro. Isso ela faz bem, ela
pensa pra frente.
A menina, então, vira mulher e constrói sua vida. O sonho de
ser reconhecida e de ter seu lugar no mundo é realizado. Ela continua sendo boa
no que faz e cada vez chega mais perto do pote de moedas de ouro!
A mulher, como observadora nata, tem muito que oferecer aos
seus queridos familiares mirins, transmitindo toda sua sabedoria e torcendo
para que suas palavras não surjam efeito tardio.
Então, a senhora acaba em uma casa grande e branca, com
vários filhos e netos e cachorros. Com vários porta-retratos de felicidade
espalhados pela casa. Com vários raios de luz saindo do coração dela. Com a
consciência de que as coisas acontecem do jeito que tem que acontecer... Que as pessoas passam pelo o quê passam por
algum motivo... E o que importa é como você leva isso pra sua vida.
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